“Estou no degredo…aos poucos vou caindo no meu buraco, como sempre fiz.”
Espetava um murro na parede, com uma força incrível. Reflectia na minha vida, e começa a chorar. Chorava porque sempre tive uma boa vida, e sempre tive uma família, amigos e comida na mesa todas as noites, chorava porque tinha uma cama onde dormir, e chorava por chorar pelo amor. Via sem-abrigos na rua, mas mal via uma lágrima na cara deles, eles sim, não tinham uma cama onde dormir, nem jantar todos os dias, mas apesar disso, não choravam, e eu chorava por amor. Passava por eles e deixava uma moeda nas suas mãos calejadas, pedia-lhes que tivessem força para mais um dia de chuva. Ele olhava para mim e dizia:
“Obrigado senhor.”
Quando me diz aquilo, vejo uma lágrima a cair-lhe no rosto enrugado, com suas mãos tremendo. Vejo a dor que ele levava nos seus olhos carregados e via migalhas de pão no seu casaco. Desde esse dia percebi, que todos choramos, seja pelo o que for.
Aquelas pessoas, que eu considero verdadeiros senhores, transportam mágoa e raiva nas suas lágrimas.
Talvez tenham mais razões para chorar do que nós, que temos muitas coisas em nosso redor. Mas pronto, todos os dias, era assim na escola… a tristeza que predominava a minha maneira de ser, via-se todos os dias, sem escapar a alguém. As minhas lágrimas que eu queria largar não saiam dos meus olhos, quando mais precisava de chorar. Precisava que as minhas lágrimas levassem para fora de mim a tristeza e raiva que sentia, mas não…cá ficavam a fazer-me pensar. Depois de mais uns quantos murros na parede, soltou-se uma lágrima de mim, e aí, começo a chorar sem fim. Tinha a mão negra, mas para alguma coisa serviu.
Queria levar-te comigo para o fim do mundo, mas não te conseguia alcançar…queria escavar o tesouro, mas nem uma pá tinha eu.
Olho para mim ao espelho e vejo que a minha baixa auto-estima cresceu.
Até um dia.